quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Quem conhece Milagro Sala?

Aumenta a oposição ao governo Macri na Argentina
A Argentina é palco de uma campanha difamatória contra uma mulher. De que forma ela é atacada moralmente? Como ressentida, autoritária, prostituta, fascista, subversiva, montonera, corrupta, e até uma liderança de hordas hitlerianas. Estes adjetivos vêm da direita e da esquerda argentinas, contra a Magra, ou Milagro Sala, ativista dos direitos indígenas e a primeira presa política do governo Maurício Macri. Contra a criminalização do protesto social, Sala respondeu com a greve de fome. Polêmica, ela lidera a Asociación Barrial Tupac Amaru (ABTA), que luta pelos direitos de comunidades indígenas como os guaranis, coyas e os mapuches. Foram divulgados  através da mídia estes dizeres seus: “Soy india, negra y mujer. Y quiero los mismos derechos para todos, pero sin abandonar mi conciencia de clase”.
A ABTA se inspira nos ideais do mestiço peruano Tupac Amaru II, que participou de uma das maiores rebeliões indígenas americanas, se destacando em uma agitação política e armada que resultou em diversas independências na América Latina. O modelo político é o Estado plurinacional e intercultural da Bolivia, cuja Constituição foi aprovada via referendo popular em 2009. Outras influências assumidas pela organização são Evita Perón e Che Guevara. Prova incontestável de que na América Latina, as opressões de gênero, de raça e de classe estão relacionadas, Sala tem uma trajetória pessoal que impressiona. 
Em Jujuy, Sala ajudou na organização dos desempregados, depois que participou da Associação de Trabalhadores de Estado (ATE). Desta atividade com os desempregados surgiu a organização Tupac Amaru, em 2001. Ela mesma morou nas ruas por dois anos, ao fugir de casa. Residiu na casa de uma família de classe média que a encontrou abandonada em uma caixa de sapatos em frente a uma igreja e a adotou. Renunciou ao cargo de deputada provincial para concorrer e ser eleita ao parlamento do Mercosul (Parlasul). Ajudou a conquistar, através da ABTA, construção de mil casas e bairros inteiros, fábricas, centro de atenção aos descapacitados de famílias sem recursos, um sistema de contenção social para combater a droga entre os adolescentes, escolas, emprego aos desempregados que passaram a ter seguros de saúde, mas não só. Por isso tudo ela foi presa. Seu marido, orgulhoso, certa vez afirmou: ela é “um ciclone desolador, porque nada a detém”.
No Brasil, Marconi Perillo, governador de Goiás pelo PSDB, mandou prender trinta e um opositores políticos. Na Argentina aconteceu a detenção da sindicalista Milagro Sala por decisão do membro da União Cívica Radical, Gerardo Morales, governador da província argentina de Jujuy. São dois sintomas dos distúrbios provocados no tecido social na América Latina pelo liberalismo econômico e suas democracias representativas.

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